A cultura indígena começa a aparecer na arte como uma busca por afirmação de uma identidade do Brasil em relação ao colonizador. Entre fins do século XVIII e início do século XIX (1870-1930), instituições museais e de pesquisa debruçaram-se sobre as peças da cultura marajoara, calcadas nas descobertas arqueológicas do período. A arte marajoara representa a produção artística, sobretudo em cerâmica, dos habitantes da Ilha de Marajó, no Pará, considerada a mais antiga arte cerâmica do Brasil e uma das mais antigas das Américas. Peças como as moringas, urnas funerárias, vasos, tangas e outros objetos, em grande parte com formas antropomórficas e símbolos geométricos, entraram para o imaginário erudito e modernista como representações das culturas indígenas brasileiras. Vicente do Rego Monteiro estudou a produção estética marajoara em visitas ao Museu Nacional e ilustrou o livro de P. L. Duchartre, “Lendas, crenças e talismãs dos índios da Amazônia”, inspirado na cerâmica marajoara e na cultura indígena. Nesta Natureza-morta estão apresentes essas influências no grafismo do cinzeiro e na moringa, em que empresta a figura humana típica marajoara e a atualiza com um chapéu, uma possível releitura do homem “moderno”.