Sobre o Artista

Gershon Knispel (1932-2018) nasceu em Colônia na Alemanha e dividiu sua vida entre Israel, Palestina e São Paulo, envolvendo- se profundamente com o meio artístico brasileiro. Em São Paulo, fez diversos trabalhos como mosaicos e painéis para a então TV Tupi no Sumaré, os vitrais da Sinagoga da Congregação Israelita Paulista (CIP), o afresco da fachada do Palmeiras, o painel do Teatro TAIB, além de vários murais, mosaicos, afrescos, pinturas para edifícios públicos e privados.

De origem judaica, Gershon Knispel e sua família deixam a Alemanha em 1935 para fugir do Nazismo e seguem para Haifa. O terror do holocausto acompanharia a história da família para sempre.

Um pouco mais velho, Gershon estuda na Academia de Arte de Bezalel em Jerusalém. Depois viajar e estudar na Europa, em 1959, vem para São Paulo convidado por Assis Chateaubriand para realizar a pintura de motivos indígenas na antiga fachada da Rede Tupi. Em São Paulo permanece até 1964 – ameaçado peço Golpe Militar-, partindo depois de volta para Israel. Ele voltaria ao Brasil apenas em 1995, voltando a criar obras ímpares como murais, esculturas, gravuras, alto-relevos.

No Brasil teve contato com figuras importantes do meio intelectual e artístico como Candido Portinari, Juca de Oliveira, Vilanova Artigas, Mário Schenberg, Radha Abramo, Caio Prado Jr., Oscar Niemeyer. “Trabalhou com movimentos sociais, sindicatos de operários e com os grandes movimentos de democratização da cultura da década de 1960, como o Centro Popular de Cultura da UNE” (Cytrynowicz, 2023, p. 49).

Gershon realizou exposições em Moscou, Jerusalém, Havana, Berlim, entre vários outros lugares. Recebeu diversos prêmios por sua obra gráfica, monumentos, baixos-relevos. Muitas de suas criações contam a história do Estado de Israel, do holocausto, das lutas contra as ditaduras latino-americanas, estimulam a resistência ante às potências ocidentais, com um tom sempre militante e provocativo. O objetivo das produções de Gershon, foi aquele de reforçar a importância da paz, da solidariedade, da justiça e da humanidade. São valores intrínsecos às mensagens de suas obras.

Faleceu no dia 7 de setembro de 2018, em Israel, aos 86 anos.

Do artista, o Acervo Artístico possui a pintura “O Violinista” e duas séries de gravuras: “A Cruzada das Crianças” e “Estrela das Cinzas”. A “Cruzada das Crianças” justamente, foi premiada em 1963 na VII Bienal de São Paulo.

Ref. CYTRYNOWICZ, Roney (Org.). TAIB: uma história do teatro. São Paulo: Narrativa Um: Instituto Cultural Israelita Brasileiro, 2023.

Foto do artista

“Gershon Knispel fala sobre trauma do Holocausto e a amizade com Niemeyer”

José Carlos Vieira
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2016/05/15/interna_diversao_arte,531842/gershon-knispel-fala-sobre-trauma-do-holocausto-e-a-amizade-com-nieme.shtml

Como foi a [relação de Knispel ...] com Oscar Niemeyer? Um judeu e um ateu unidos por meio da arte?

Éramos dois comunistas, e quando, em 1958, ganhei o concurso no Monumental Mosaico, na TV Tupi, Assis Chateaubriand, dono da emissora, me convidou para ir ao escritório dele no Museu de Belas Artes, na Rua 7 de Abril. Nesta reunião estava sentada uma pessoa um pouco baixa de pele escura, de olhos profundos e bigode de um amante latino, e Chateaubriand me perguntou: ;Por que índios no teu desenho?; Respondi: ;Os índios são a minoria mais humilhada de um Brasil, apesar de eles serem donos desta terra, os quero com altura de 7,5 metros e no lugar mais alto de São Paulo ; que era no Bairro de Sumaré. Dito e feito. A pessoa que estava meio escondido se levantou, me abraçou e falou com Chateaubriand: ;Precisamos de um talentoso jovem israelense;. Pegou o cartão de visita dele, me entregou e falou: ;Quando chegar ao Rio de Janeiro, não se esquece de ir me visitar no escritório, obrigado;. Era Oscar Nimeyer! Adorei. Meu sonho era encontrar esse poeta de concreto que achou a grande invenção de tirar do concreto a lei da gravidade; desde aquela vez não paramos de ficar juntos, no tempo que estávamos exilados do Brasil até minha volta em 1995.