2. Influências alemãs e soviéticas

Em 1931, Tarsila e Osório César, seu companheiro à época, viajaram à União Soviética. Para Tarsila, era uma viagem de descoberta como ela diz:

“Uma viagem à Rússia, não digo bem, à URSS. A lenda que paira sobre a terra nevoenta de Lenine (sic) exerce sobre o meu espírito de artista uma sedução inexplicável. Daí meu desejo de visitar Moscou, para apreciar suas construções novas, os seus processos intelectuais e materiais completamente revolucionários, bem como o seu povo animado de uma mentalidade sadia e inédita, com suas leis naturais e seus pulmões livres e capazes de respirar o ar da mais saudável das liberdades”. (DIÁRIO DA NOITE, São Paulo, 26 mar. 1931 apud AMARAL, 2010, p. 301.)

Dessas descobertas, ela desenvolveu um interesse já existente por uma identidade brasileira que nascia da grande massa da população, e inspirou-lhe a temática de um espírito de lutas sociais por direitos e igualdade, guiando um período de sua produção interpretado posteriormente como “fase social”.

Nesta fase, Tarsila representou os trabalhadores de diversas áreas, não só os operários, imortalizados por esta tela, mas também costureiras, pescadores, mineradores e uma população marcada pela marginalidade social, a dita “segunda classe”.
As referências que adquiriu na viagem são levantadas pela pesquisadora Aracy Amaral.

Visitando museus e conhecendo a produção dos cartazes de propaganda soviética, Tarsila pode ter entrado em contato com toda uma produção ligada ao tema do trabalho. Aracy destaca as obras “Proletárias”, de 1900, de Hans Baluschek, pintor do realismo crítico alemão, que retratava com franqueza a vida do homem comum. Tarsila pode ter visto a obra no Museu Märkisches, na Alemanha, pois sua viagem contemplou Moscou, Leningrado, Odessa, Constantinopla, Belgrado e Berlim. Nessa obra, os rostos cansados de diversas mulheres saindo de uma fábrica podem ter ecoado na obra de Tarsila.

Obra - Proletárias
Proletárias

Obra - Dia da mulher trabalhadora
Dia da mulher trabalhadora

Outra obra que pode ter sido uma referência para Tarsila foi “Dia da mulher trabalhadora”, de 1930, da pintora e designer russa da vanguarda construtivista, Valentina Kulaguina. Cartaz de propaganda soviética sobre o Dia da Mulher, a obra retrata as mulheres como força de trabalho, tendo uma mulher com o punho à frente conclamando uma multidão de mulheres dispostas em forma de pirâmide e emolduradas não por chaminés, mas por cilindros dos teares da indústria têxtil.