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Diálogo de Formas – Clementina Duarte e o Acervo Artístico dos Palácios
Palácio dos Bandeirantes, de 31 de março a 25 de junho de 2010

A primeira idéia que poderá passar pela cabeça do visitante desta exposição é a de um debate sobre as linhas tênues entre a arte e o design. Não tem, no entanto, esta mostra, a pretensão de mapear as linhas do design, mas tão somente de estabelecer associações entre os dois universos por meio de suas linguagens de expressão. Visa reunir obras que evidenciam as circunstâncias e participações da arquiteta e designer pernambucana Clementina Duarte no circuito das artes e mostrar um diálogo entre as formas escultóricas de sua produção de jóias nos anos de 1960 a 1980 e algumas obras das coleções dos Palácios do Governo de São Paulo.

Os artefatos criados por Clementina, alguns deles prêmios de Bienais de Arte e Design, compartilham da mesma aventura da inventividade experimental das artes da primeira metade do século XX.

A proximidade da artista e suas relações com alguns nomes importantes da arquitetura, moda e design das décadas de 1960 e 1970 fizeram de seu percurso artístico uma via de expressões formais de influências, cujas linhas do desenho fazem referência a Oscar Niemeyer, a Le Corbusier e a Charlotte Perriand, que Clementina interpreta com formas soltas e ergonômicas.

Nesse período de início revelador da trajetória de Clementina em Paris, França, onde foi estudar arquitetura com Jean Prouvé, a designer expõe, em 1966, na Galeria Steph Simon, com curadoria de Charlotte Perriand, e conhece, também, Pierre Cardin, para quem cria peças que foram expostas no desfile do estilista em 1967. O contexto dos acontecimentos da época – como a primeira viagem do homem à Lua, em 1969 – marcou significativamente suas criações dos anos 1970 e 1980, nas séries “Cosmos” e “Espaço”. Nessa época, outros criadores, como André Courrèges, também fazem o mesmo percurso de idéias, desenhando roupas de aspecto futurista e linhas geométricas. Apesar de terem a mesma inspiração, há um tratamento mais lúdico e solto nas peças de Clementina, próprio de sua origem brasileira e tendenciosamente barroca.

Sua formação como arquiteta marca todo o caminho da artista, revelado nas soluções de estrutura e detalhes de suas peças, desde a execução do projeto de design ao recorte do desenho da obra, jogo alusivo às maquetes dos projetos de arquitetura, lições das aulas com Jean Prouvé.

O percurso de Clementina e a série de peças exposta aqui nos remetem à pesquisa e à busca pelas raízes do Brasil, despertada pelos intelectuais e artistas modernistas brasileiros, estes muito bem representados nas coleções de artes plásticas dos Palácios.

A precisão da linha do desenho para dar forma às jóias-esculturas de Clementina Duarte é associada, nesta exposição, com obras de artistas como Tomie Ohtake, Manabu Mabe, Amilcar de Castro, Cláudio Tozzi, Emanoel Araújo, Arnaldo Pedroso d’Horta, Luiz Dolino, Alfredo Volpi, Maria Bonomi e outros.

Entre formas figurativas e abstratas, as obras sugerem a lembrança dos anos 1960, quando essas duas linguagens de expressão viviam em intenso conflito, como pode ser observado nos oito painéis (1959) expostos no pavimento térreo do Palácio dos Bandeirantes. Hoje, reunidos lado a lado, jóias, pinturas, esculturas e mobiliário procuram mostrar as possibilidades de sintonia entre eles, mesmo que sejam projetos e poéticas distintas.

Assim, perceber a proximidade entre as linhas e o sentido de espaço em obras como a escultura “O Flautista”, de Bruno Giorgi, ou o óleo sobre tela “Formas Superpostas”, de Samson Flexor, e as jóias de Clementina é aproximá-las da idéia de unidade e universalidade do processo criativo, seja ele expresso em pinturas, esculturas, desenhos ou objetos de design.

Matisse (1869-1954), pintor francês, conta que, tendo convivido em sua casa, parte de sua vida, com um “grande molde em gesso da estátua argiva Cleóbis”, recebe, certo dia, a visita do arquiteto Le Corbusier – definido pelo pintor como “distinto e inventivo e repleto de ousadias arquitetônicas e decorativas” –, que, parando diante de sua estátua, disse: “Deixe-me olhar essa maravilha, desenhei-o muito há dez anos atrás”. Matisse, então, observa: “(...) não é um pouco surpreendente essa confissão de um artista que poderíamos pensar que partira apenas de si mesmo?” .

As influências dos mestres de Clementina foram fortes referências para que ela partisse para sua linguagem própria e seguisse um caminho singular.

Ana Cristina Carvalho
Curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo