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Modernistas revisitam a Capela

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Modernistas revisitam a Capela
Capela de São Miguel Arcanjo, de 08 de novembro a 20 de dezembro de 2009

Trinta obras de arte, entre pinturas, esculturas, gravuras, desenhos e fotografias, destacam a coleção de arte moderna brasileira dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Reunidas e expostas na Capela de São Miguel Arcanjo, propõem uma apreciação que possibilita associações com questões estéticas, sociais e culturais da vida do povo brasileiro, especialmente as raízes nacionalistas vasculhadas pelos intelectuais e artistas modernistas na primeira metade do século XX.

A exposição nasce das idéias do projeto modernista dos anos 1920, que foi exatamente a promoção de um de encontro do país consigo mesmo, algo como uma “redescoberta” do Brasil pelos brasileiros, pelas vias da cultura, das letras e das artes.

A partir de São Paulo, a emblemática visita dos artistas e intelectuais paulistas às cidades históricas mineiras em 1924, revelando as maravilhas do nosso Barroco, é manifestação dessa aspiração, que ganha coerência e consistência programáticas nas pesquisas mais sistematizadas de Mário de Andrade. Entre seus vários vetores de interesse investigativo, o modernista volta-se diacronicamente para nosso passado colonial e sincronicamente para a cultura popular brasileira. Esse duplo movimento ganha expressão material, de um lado, na sua longa viagem pelo norte e nordeste, de 1927, relatada em “O Turista Aprendiz”, e as relações e correspondência de uma vida inteira com seus pares nessas regiões; de outro, na elaboração do anteprojeto do Serviço do Patrimônio Histórico, atual IPHAN, além da aquisição do Sítio Santo Antônio, no município de São Roque.

É curioso e significativo o modo como a Capela de São Miguel Paulista acaba por catalisar essas duas vertentes das linhas de pesquisa e militância cultural de Mário de Andrade. Isso devido ao fato, objetivamente, de a Capela ter sido um dos primeiros bens tombados no Estado de São Paulo pelo SPHAN, em 1938, bem como sua localização na região que, aproximadamente a partir desse mesmo período, acolheu, em larga escala, as grandes vagas de imigração interna, notadamente do nordeste, invertendo o trajeto de Mário com os nordestinos anos antes, para, afinal, “descobrir” São Paulo.

Assim, as obras do Acervo dos Palácios expostas na nave central da Capela mostram um percurso que contextualiza a busca das raízes brasileiras pelos modernistas no início do século XX. Expostas em núcleos de idéias, as obras evidenciam, também, a pesquisa e ações de preservação do nosso patrimônio e as associações com o contexto atual da conservação desse importante bem patrimonial da cidade de São Paulo, a Capela de São Miguel Arcanjo.

No primeiro núcleo, “Viagem pelas raízes do Brasil”, são apresentadas obras pertencentes à coleção dos Palácios e fotografias do acervo do artista convidado, José Cláudio Omena, associadas à idéia de resgate das origens do Brasil, da arte erudita e popular, recolhendo-se, como nas viagens feitas por Mário de Andrade, elementos da cultura brasileira. A busca modernista é evidenciada nesse núcleo por meio da escultura em bronze do artista Bruno Giorgi, representando a figura de Mário de Andrade; pinturas como “Natureza-morta”, de Vicente do Rego Monteiro, o “Carcará”, de Aldemir Martins, “Rio de Janeiro”, de Cícero Dias, e “Paisagem de Ouro Preto”, de Guignard; cenas de um vilarejo e a representação de manifestações coletivas nos painéis de azulejos de Alfredo Volpi; esculturas do artista baiano Agnaldo Manoel dos Santos; e o ensaio fotográfico sobre a vida no sertão nordestino, do pernambucano José Cláudio Omena.

O segundo núcleo, “Devoção”, revela a religiosidade popular por meio de obras de artistas como Tarsila do Amaral, que representa a tradição das procissões em sua obra “Estudo de Procissão”; destaques como “Santa Cecília”, de Djanira Motta e Silva, que evocam a musicalidade que transporta os sentidos para a reflexão e dimensão espiritual; e a “Nossa Senhora Aparecida”, de Tereza D'Amico, uma pequena obra rica de elementos culturais, como a colagem do trabalho artesanal da renda.

O terceiro núcleo, “A Capela e a Cidade”, procura estabelecer relações com as obras e o contexto da cidade de São Paulo, que cresce e acolhe os milhões de migrantes vindos, principalmente, das regiões norte e nordeste, apresentando obras associadas à origem da cidade e seu desenvolvimento. É o caso de obras como “Bandeirante”, de Portinari, e o óleo sobre tela “Capela de Santo Antônio”, de Nicola Petti, que representa a capela construída em 1681, em São Roque, no oeste da cidade de São Paulo. A Capela de Santo Antônio foi comprada, no início do século XX, por Mário de Andrade, que notou, em 1937, sua semelhança com a Capela de São Miguel na solução de fachada de igreja com alpendre. Ainda nesse núcleo, outro óleo sobre tela, “Progresso”, de Vitório Gobbis, sintetiza com cores vigorosas o percurso da criação da cidade, o importante papel da Igreja na catequese jesuítica e o desenvolvimento urbano e industrial.

Desse modo, esta exposição no contexto da Capela de São Miguel vem possibilitar novas aproximações e leituras das obras do patrimônio artístico do Estado de São Paulo.

Ana Cristina Carvalho e Gilmar Viana
Curadores da exposição