A Arte e o Evento PPP Américas

A coleção de arte moderna brasileira do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo conta com artistas fundamentais para o Modernismo no Brasil e obras ícones desse movimento artístico ao longo de sua trajetória. A partir de uma seleção dessas obras, esta exposição foi preparada para o mais importante foro de discussão em Parcerias Público-Privadas (PPP) da América Latina e Caribe, que em 2021 acontece no Brasil, em São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes, entre 08 e 10 de dezembro, com uma versão também online para ampliar seu acesso.

O evento é organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), itinerante por diferentes países a cada edição, e neste ano, no Brasil, conta com o apoio institucional da União Europeia e do Governo Federal, apoio acadêmico do MBA PPP e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP e em coordenação com a Subsecretaria de Parcerias do Governo do Estado São Paulo.

A edição de 2021 do PPP Américas conta com painéis, plenárias de debates e apresentação de projetos, além da publicação de documentos de discussão sobre tópicos de grande relevância para as PPPs na América Latina e Caribe. A exposição “Tradição & Inovação – Modernistas no Brasil” soma-se ao evento, buscando refletir sobre a consolidação das ideias de modernidade e progresso no cenário artístico-cultural de São Paulo.

A Exposição e o debate cultural do Modernismo no Brasil

No final do século XIX, em São Paulo, a atmosfera do academicismo, paradoxalmente, resistia e aceitava modernistas nas artes plásticas, na literatura, na arquitetura e na música, pelo fato de São Paulo – uma metrópole emergente e com uma numerosa população de imigrantes – ansiar por se afastar, cada vez mais, de seus hábitos coloniais passados, já que, ao contrário do Rio de Janeiro, não tinha uma escola oficial de belas artes. O único estímulo oficial às artes na cidade era o Pensionato Artístico do Estado, que enviava bolsistas à Europa, do qual se beneficiaram importantes rtistas, inclusive os modernistas Anita Malfatti e Victor Brecheret.

A forte influência dos artistas imigrantes – na virada do século, mais da metade da população de São Paulo era formada por imigrantes estrangeiros – e o trânsito dos artistas brasileiros na Europa, além de estimularem a busca das raízes nacionais, caracterizam as singularidades da arte que desponta em São Paulo nos primeiros anos do século XX. A influência da arte das Academias começa a ceder espaço para a produção de artistas em contato com as vanguardas internacionais europeias como o Impressionismo e o Cubismo. Artistas como Tarsila do Amaral aderem às novas formas de expressão artística, com intenção de estabelecer novos símbolos da brasilidade na história do Brasil integrados ao ambiente artístico internacional.

Em 1922, no âmbito da comemoração do Centenário da Independência do Brasil, a Semana de Arte Moderna reuniu literatura, música e artes visuais no Theatro Municipal de São Paulo, em um espírito de inovação que se opôs às tendências conservadores predominantes no Brasil na passagem do século XIX para o século XX.

A preocupação com uma arte nacional e em retratar elementos identitários da cultura brasileira e da modernização das cidades se intensificou nas décadas que se seguiram. De 1933 é a pintura “Operários” de Tarsila do Amaral, que representa a diversidade étnica e o avanço da indústria que tornava São Paulo em uma metrópole. Os temas nacionais seguiram presentes na revalorização do mobiliário colonial pelos modernistas e dos objetos tipicamente brasileiros, como na natureza-morta do artista pernambucano Vicente do Rego Monteiro, e as festas populares, representadas na exposição pela obra de Djanira Motta e Silva.

Mesmo entre os modernistas, as diferenças eram muitas e a diversidade de linguagens dá origem ao embate entre o figurativismo e o abstracionismo nos anos 1950, quando as tendências mais abstratas da arte moderna chegam ao Brasil pelas primeiras Bienais. A série de painéis de 1959 da coleção dos Palácios do Governo revela o dualismo de expressão e linguagem artística. Embora com as mesmas datas e medidas, pois foram encomendadas por uma empresa de telefonia antes de serem compradas pelo Governo do Estado, essas obras apresentam manifestações distintas: Clóvis Graciano, Aldemir Martins e Marcelo Grassmann reproduzem a figura humana e animais, ainda que geometrizados e cubistas; Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Mário Zanini, Danilo Di Prete e Alfredo Volpi expõem suas experimentações concretistas, geométricas e de abstração informal. Os oito painéis são, por conseguinte, a representação da síntese das conquistas estéticas dos artistas dessa época, posto que revelam os diversos “Modernismos”, que mesmo distintos expressam as ideias de inovação, mudança de valores e busca de identidade.

Ana Cristina Carvalho Faggin
Curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo